TERNURA ( Vinicius de Moraes )






Eu te peço perdão por te amar de repente...


Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos,


Das horas que passei à sombra dos teus gestos


Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos


Das noites que vivi acalentado


Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo


Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.


E posso te dizer que o grande afeto que te deixo


Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas


Nem as misteriosas palavras dos véus da alma,


É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias,


E só te pede que te repouses quieta, muito quieta..


E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade 


o olhar estático da aurora...



O AMOR ( Manoel de Barros)



Fazer pessoas no frasco não é fácil.
Mas se eu estudar ciências eu faço.
Sendo que não é melhor do que fazer pessoas 
  na cama..
na rede..
nem mesmo no jirau..
como os índios fazem.
(No jirau é coisa primitiva, eu sei,
mas é bastante proveitosa)
Para fazer pessoas ninguém ainda não
inventou nada melhor que o Amor.
Deus ajeitou isso para nós de presente.
De forma que não é aconselhável 
Trocar o Amor por vidro..



SERENATA ( Cecília Meireles)




Permita que eu feche os meus olhos,

pois é muito longe e tão tarde !

Pensei que era apenas demora,

e cantando pus-me a esperar-te.

Permita que agora emudeça:

que me conforme  em ser sozinha.

Há uma doce luz no silêncio,

e a dor é de origem divina.

Permita que eu volte o meu rosto

para um céu maior que este mundo,

e aprenda a ser dócil no sonho 

como as estrelas no seu rumo...


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